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“Vacina” da SIDA já existe. Porque ainda não chegou a Portugal?

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Já é distribuída nos EUA há quatro anos e está a causar uma revolução. Chama-se Truvada e não é bem uma vacina: é um comprimido antirretroviral e quem o toma registou zero casos de infecção.

A Organização Mundial de Saúde recomenda o tratamento, também chamado de PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), a todas as pessoas em risco. Ou seja, não é para toda a gente. Mas, ministrado às populações mais expostas, pode ser a resposta para a erradicação mundial do VIH, que o uso do preservativo não conseguiu atingir. Do Estado português, até agora, nem uma palavra sobre a disponibilização da terapeutica no Serviço Nacional de Saúde.

Quando a primeira crise epidémica se deu, no início dos anos 80, acreditava-se que apenas homossexuais eram atingidos. A ignorância e  — acredito — a má fé associada ao preconceito, levou instituições governamentais americanas a recusar financiar pesquisas. E mesmo medicamentos com comprovada eficácia estiveram banidos durante anos.

Hoje sabe-se que a enorme maioria das pessoas infectadas têm relações heterossexuais. O tratamento para quem já é portador é eficaz (o Truvada é um dos que fazem parte do cocktail) e permite a quem é detectado precocemente uma esperança de vida elevada — apesar de frequentes complicações de saúde e psicológicas e de um enorme investimento estatal em tratamentos.

Mas a inoperância das entidades tem um efeito ainda mais grave: mais e mais pessoas se estão a infectar diariamente. Em 2014, 1,2 milhões de pessoas morreram no mundo e todos os dias 600 crianças são infectadas.

Nos anos 80 não existia internet mas, ainda assim, num acto de desobediência civil, muitos começaram a importar ilegalmente medicação eficaz. Hoje, online, já é possível encomendar, da Índia e de outros países, o (por enquanto) pouco famoso Truvada. É uma oportunidade única dos nossos tempos mas também implica riscos no que toca à qualidade e eficácia. Além de que os preços tornam-no acessível apenas aos mais abastados, criando-se uma discriminação de classe flagrante.

A pílula libertou a mulher, permitindo que o prazer e não apenas a procriação fosse propósito do sexo. Há uma crescente libertação sexual da humanidade face aos grilhões das igrejas e aos púdicos conservadores que entendem sermos fábricas de produzir bebés. Hoje, a PrEP está a causar nos Estados Unidos uma revolução de mentalidades ao abolir o medo que envolvia os actos sexuais, mesmo os protegidos, desde que se descobriu o VIH.

Quem já toma PrEP pode e deve continuar a usar preservativo porque outras doenças menos graves se podem evitar. Mas estou certo que o prazer resultante do fim dos medos far-nos-á desfrutar do sexo de forma tão libertadora que só os invejosos celibatários das igrejas e os mais frustrados conservadores podiam querer privar-nos.

Razões economicistas foram apresentadas há um ano pelo governo português para não encomendar medicamentos que curam a Hepatite C, até morrerem pessoas que podiam hoje estar vivas.

Quantas mais pessoas terão que ser infectadas com VIH para que os responsáveis percebam que, quanto mais tempo demorarem a distribuir a PrEP em Portugal, mais manchadas de sangue estarão as suas mãos?

Aos restantes, faço o apelo: testa-te — grátis e com resultado na hora — aqui ou aqui. E reivindica a PrEP em Portugal já!

Artigo publicado originalmente no P3 do Público

Foto: Stringer Russia/ Reuters

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